Volta às raízes
Aquela manhã seria dedicada a locais ligados à história da família Moyna. Para um brasileiro, ou sul americano em geral, isso significaria normalmente conhecer a cidade onde nasceram os avós, ou a fazenda onde cresceu seu trisavô se você tiver sorte, mas no caso de uma família irlandesa, já tradicionalmente ligada aos antepassados - que ainda por cima tem como patriarca o Mackie, que vem levantando o fio da nossa história há 50 anos - isso significa bem mais.
A primeira parada seria em Tattenclave, local onde se estabeleceram antepassados nossos há uns 3 séculos. Uma das minhas dificuldades em compreender as coisas na Irlanda é a divisão dos condados em parishes, townlands e tal. Mas o que eu sei é que Tattenclave faz parte de Aghabog, Co. Monaghan. Numa fazenda da região se estabeleceu John Moyna (meu tetravô, se não me engano) no fim do século 18 e desde então a casa está quase do mesmo jeito e habitada por algum Moyna. Era essa casa que nós íamos conhecer.
Chegamos na casa, que está desabitada no momento, e entramos com a chave deixada escondida onde qualquer parente pode achá-la. De cara parece uma casa comum, mas o fato é que, tirando o telhado e algumas "modernizações", é praticamente a mesma desde que John Moyna lá criou seus filhos. Uma casa simples, de três cômodos e um sótão onde dormiam os meninos. Um desses meninos era James Moyna, que foi o precursor da família no Chile e que deu origem aos Moynas sulamericanos.
Antes de conhecer o local, ouvimos a história da aventura dos homens de O'Sullivan Beare desde Munster até o norte no inverno, trazendo com ele mil seguidores, dos quais apenas sobreviveram 34 homens e uma mulher, os quais vieram a ser conhecidos como os Muimhneach (Munsterman), depois anglicizado para Moyna(gh). Para se ter uma idéia da dureza dessa jornada, basta dizer que ela se iniciou na véspera do ano novo de 1603, no extremo sul da Irlanda e num dos mais rigorosos invernos que se teve notícia. Isso sem contar os combates que enfrentaram até chegar ao norte da ilha, 15 dias depois.
O ponto alto da visita foi protagonizado pelo Juan Manuel, que do seu fantástico Blackberry conseguiu uma ligação de Tattinclave com Santiago do Chile, para falar sua mãe, D. Anita, refazendo toda a viagem que Charles Edward fez no século XIX, só que via satélite. A velha senhora ficou emocionadíssima, principalmente depois que o aparelho foi passado para o Mackie para que conversassem. A emoção era visível na expressão de todos os que estavam ali em volta. Tecnologia a serviço da alma.