Relato da reunião de maio/junho de 2005 entre 3 representantes das 3 nacionalidades de Moynas sulamericanos e nossos parentes irlandeses

segunda-feira, agosto 29, 2005

Cerveja, futebol, comida e cama quente

Instalei-me no apartamento da irmã do Mackie, Jo, que falecera em março.
O apartamento era ótimo e ficava na mesma quadra da casa do Mackie, de frente para o mar e estava praticamente sem uso. Eu ia dividi-lo com o Juan Manuel enquanto estivéssemos em Dublin.

À noite assisti à final da Taça UEFA tomando uma cervejinha com a Marge , que torcia loucamente pelo Liverpool, mesmo com o Milan ganhando de 3x0. Aliás, os irlandeses, quando não torcem pelo Celtic, torcem pelo Liverpool ou pelo Manchester United. Os dois são os times dos católicos das duas cidades inglesas. Com a virada do Liverpool e o título, a Marge ficou toda contente e eu me recolhi para encarar a maratona do dia seguinte.

Smile, you're in Ireland!

Troquei o 747 da Air France pelo BAe 146 da Cityjet e parti então para Dublin. Muito emocionado em tocar o solo irlandês alguns anos antes do que eu havia imaginado, desembarquei ainda cedo e tive que esperar um batalhão de chineses (ou coisa parecida), além de europeus orientais passarem pela alfândega. Na saída, avistei imediatamente tia Nancy aguardando ao lado do Mackie. Embarcamos no pequeno Fiesta da esposa do Mackie, Marge, e fomos para sua casa. Primeiras dificuldades: acostumar o ouvido e habituar com a "mão-inglesa". Toda vez que entrava num roundabout pelo lado "errado" era um susto!



Chegamos à Sutton, na ponta norte da Baía de Dublin, uma área suburbana cheia de condomínios de casas parecidas e pequenos prédios. Casas que aqui seriam de classe média-média, lá são consideradas casas de gente bem estabelecida, como o Mackie. Nenhum luxo ou casas ostentatórias, apenas casas de tijolinho com seus jardins, garagens e algumas estufas. Além da casa, a recepção foi mais do que acolhedora. Marge nos recebeu com um chazinho e alguns quitutes, para tirar o gosto de comida de avião da boca.

Com alguma ajuda da Nancy, que ainda fala português depois de 30 anos, comecei a me comunicar decentemente com os irlandeses. Tia Nancy abriu então a imensa árvore genealógica que ela trouxe da Califórnia. Ela vem preparando essa árvore há tempos (a partir de informações que o Mackie vem juntando há anos) e pretende finalizá-la com as informações colhidas nessa visita. De cara a primeira surpresa: o pai do antepassado comum de todos os Moynas sulamericanos, Charles Edward, era James Moyna e não Michael, como constava até agora. Isso ainda vai longe!

domingo, agosto 28, 2005

Paris, touch and go

Tudo decidido, euros comprados, recomendações deixadas com o Guilherme, tempo na Irlanda checado, bagagem arrumada e lembranças do Brasil providenciadas para entregar na Irlanda. Tudo absolutamente tranqüilo para partir. Há muito eu não viajava de forma tão calma.

O avião da Air France deixou o Rio com quase uma hora de atraso, mas fizemos um vôo perfeito. Na manhã seguinte, com o sol nascendo, avistei Paris na minha janela. Da distância que eu estava, pude identificar os marcos mais visíveis, a Torre Eiffel, o Sena e o Estade de France, à medida que o avião se aproximava do Charles de Gaulle. Já se pode dizer que vi Paris!

Cheguei no novo Terminal 2F, semelhante ao 2E, que desabou parcialmente em 2004. A arquitetura é impressionante, como se pode ver na foto. Me impressionaram também a quantidade de gente àquela hora da manhã conectando-se com o mundo inteiro, a variedade étnica, os banheiros horríveis e os preços absurdos. Fazia calor, diferentemente do que diziam os sites com o clima no mundo.

Troquei uns traveller cheques e comprei pilhas reservas para a minha máquina. As pilhas mais caras da história. Pude também experimentar o odor característico dos nativos. Paris fica para uma outra vez.

sábado, agosto 20, 2005

Fechado!

Finalmente chegaram as datas e o roteiro que o Mackie enviou para a Tia Nancy! O programa incluía reuniões de família e cada local a ser visitado. Marquei os pontos no meu mapa. Realmente era uma programação justa, aproveitando cada dia. Iríamos conhecer boa parte da Irlanda entre 29 de maio e 3 de junho. Pouco menos de 6 dias!

Minha passagem estava marcada para dia 24, chegando a Dublin no dia seguinte. Na noite do dia 28 estava programado um grande encontro com os parentes, depois de um tour por Dublin pela manhã. Resolvi então aproveitar o único dia livre, 26, para então programar minha escapada para Londres. Nesse dia, Mackie havia programado uma visita a Newgrange, sítio arqueológico ao norte de Dublin, já que o giro pela Irlanda teria que esperar a chegada de Juan Manuel no dia 27.

Para ficar melhor, Tia Nancy me disse que o Mackie deu a idéia de dormir em Londres em seu apartamento, em vez de ir e voltar no mesmo dia. Isso ia me dar muito mais folga, porque a idéia era visitar o Museu e depois fazer um sightseeing a pé pelo centro. O apartamento estaria ocupado por um dos netos, Philip, e um colega que estudam em Londres.

Fechei então a passagem low fare da Ryan, montei os roteiros entre Aeroporto de Luton/ Museu/ Londres/ Luton. Trens, ônibus, Tube, caminhadas... Ainda deu pra marcar no mapa a loja da Hannant's (kits e mais kits!) do lado da estação de Colindale. A única coisa que estava realmente me preocupando era o horário que eu deveria estar no aeroporto de Luton (que não é perto) na madrugada do dia 27: 4 e meia da madrugada! Mas... o que é a vida sem emoções?

sexta-feira, agosto 19, 2005

Londres ou Paris?

Enquanto não chegavam os planos detalhados do Mackie para nós, comecei a tramar um programa para fazer por minha conta na "janela" que eu sabia que teria antes de começar o giro pela Irlanda, afinal, porque não aproveitar a viagem e conhecer algo mais? Tudo estava muito certinho e eu tinha que aumentar as chances de algo dar errado, certo?

Minhas opções ficaram entre Paris, onde eu faria escala a caminho da Irlanda, e Londres, para onde eu poderia ir depois de me instalar em Dublin. Uma visita casual a um site de modelismo me deu uma idéia: visitar o Museu da RAF, em Londres. Maravilha! Assim, teria a chance de realizar outro sonho meu, tudo numa viagem só! Não parecia complicado. No próprio site do museu, um link fantástico me ajudou a planejar em detalhes o meu raid a Londres. O nome do negócio é Journey Planner, onde você pode inventar qualquer roteiro na cidade e você consegue saber todo tipo, conexões, horários, mapas e preços dos transportes públicos londrinos. Simplesmente genial e é da Prefeitura de Londres. Igualzinho aqui...

Paris teria que esperar por outra oportunidade. Àquela altura eu já sabia que não teria muito mais do que um dia, talvez menos, fora do roteiro familiar. A passagem já estava comprada e o desdobramento dela para poder ficar em Paris me custaria tanto quanto uma passagem Dublin-Londres ida e volta; eu me viro melhor em inglês do que em francês; eu não tinha nenhuma idéia de um roteiro satisfatório para menos de um dia em Paris; e, definitivamente, eu estava a fim de ir a Londres e ao Museu da RAF. Ponto final.

Sondando o terreno

Quando decidi que ia mesmo viajar, tive que tomar uma decisão quanto ao meu filho. No período da viagem, o Guilherme estaria em período de provas e além do mais, minhas despesas com ele ficariam no mínimo duas vezes maiores e eu já estava apertado. Decidi que o Guilherme teria que esperar por outra oportunidade. Chato... Eu gosto de viajar com ele.

Em compensação, duas notícias boas vieram dos parentes irlandeses. Um primo, Ciaran (pronuncia-se Kieran), estaria no Rio em março e já poderíamos ter uma prévia do encontro maior que aconteceria em Dublin. Era uma espécie de "viagem de reconhecimento". Se nos portássemos bem no primeiro contato com os primos civilizados, os irlandeses podiam ficar mais tranqüilos quanto à invasão que se organizava. A outra notícia contava que uma prima, Caoimhe (say Kwiva!!!) estava dando a volta ao mundo e também ia fazer escala no Rio.

Quando o cara chegou ao Rio, me mandou um e-mail avisando que estaria por uns dias em Búzios e na volta gostaria de marcar um encontro. Depois de alguns desencontros, conseguimos marcar uma saída para tomar um chopp e nos conhecer. Os cariocas estavam representados por mim, pelo Guilherme e meu irmão Fernando, que rapidamente se juntou ao grupo. Ele adora conhecer viajantes, principalmente se forem parentes. Os irlandeses contavam com Ciaran e seu amigo Bill.

Buscamos os dois no Copacabana Palace (uau, esses caras viajam com estilo!) e fomos ao Devassa, afinal, não queria que os caras bebessem cerveja vagabunda. O Ciaran é um cara engraçadíssimo e já começou a contar alguns casos e falar sobre alguns personagens da família. O Bill é mais fleugmático, mas é um sujeito muito bacana também. E gosta de automobilismo! Papo garantido. O melhor é que não houve muita dificuldade em nos comunicar, apesar do Ciaran falar rápido, como é característico na Irlanda. Parece que não fizemos feio e as portas estariam abertas para mim.

Fim da resistência

Vencida minha resistência, eu e Tia Nancy passamos a trocar e-mails mais freqüentes, buscando me encaixar na programação já combinada com o Mackie, que seria nosso cicerone. Mas faltava ainda resolver o que fazer com minhas turmas na faculdade e com o meu trabalho no escritório. No espaço de uma semana, como num passe de mágica, o que parecia impossível aconteceu: um colega se encarregaria de dar minhas aulas no período da viagem e foi contratada uma arquiteta para me ajudar no escritório. Pronto! A cobertura para o meu plano de fuga estava providenciada.

Com a pista limpa, decidi minhas datas, fechei a passagem e dei a notícia à Tia Nancy. Precisava aguardar agora que o roteiro do tour pela Irlanda fosse definido pelo Mackie. O fato dele não gostar de usar e-mails atrasou um pouco essa parte e eu não podia fazer nenhum plano de vôo solo sem a programação do grupo.


quarta-feira, agosto 17, 2005

O convite

Quando finalmente conseguimos conversar ao vivo, pudemos matar a saudade e colocar em dia a conversa. Foi então que tia Nancy falou que estava planejando ir à Irlanda em maio, para conhecer a parentada. À ela iria se juntar Juan Manuel, nosso primo chileno residente em Washington, e eles seriam recebidos pelo patriarca da família na Irlanda, o Poderoso Mackie. Em seguida emendou o convite: "por que você não vem conosco?"

Num primeiro momento não me pareceu possível participar da viagem. Pensei: "Ah! Esse pessoal que mora nos USA pensa que é fácil para os pobres habitantes dessa terra miserável pegar um avião e ir para a Europa! Malditos imperialistas!" Felizmente esses pensamentos terceiro-mundistas começaram a ser combatidos pelo meu lado impulsivo. O lado derrotista dizia (e eu escrevia e-mails desanimados) que era impossível equacionar dinheiro, escapar de dois empregos e deixar meu filho sozinho por mais de uma semana enquanto eu passeava por entre os trevos. Meu lado inconseqüente dizia: "why not, you silly bastard?"

A pressão que vinha da Califórnia prosseguiu, até que eu comecei a fazer pesquisa de datas, mapas e preços secretamente. Pronto! Eu já estava convencido!

Por acaso

No ano de 2005, por motivos totalmente fortuitos, acabei antecipando em alguns anos meus planos de conhecer a terra dos meus antepassados e encontrar meus parentes irlandeses.

A minha viagem foi decidida e planejada no espaço de poucas semanas e, mesmo com alguns improvisos que eu me impus, talvez para forçar a minha sorte, correu como se tudo tivesse mesmo que dar certo.

Em fevereiro de 2005, abri uma conta no Skype e resolvi fazer um teste e ligar do meu computador para algum telefone no exterior. A primeira pessoa que me veio à mente foi minha tia Nancy, que mora na Califórnia. Fiz a ligação e tive a felicidade de ouvir a voz da minha tia depois de uns 10 anos.

Mas nem tudo correu bem. Na época ainda usava conexão dial-up e toda vez que ela atendia, devido ao atraso da chegada da minha voz e o inesperado da situação, ela desligava desconfiadíssima. Desisti. No dia seguinte ela me enviou um e-mail para verificar se alguém do Brasil havia me pedido seu telefone, porque um tal "Elias" havia tentado ligar para ela (ela ouvia "Elias, do Rio..." quando eu falava "Carlinhos, do Rio..."). Ri muito e respondi esclarecendo a confusão.
Combinamos então que, dias depois, tentaríamos um novo contato.